quinta-feira, 22 de abril de 2010

O Dragão e a Deusa



Era uma vez um dragão horrível. Tinha uma boca enorme que vomitava fogo, e sua longa cauda
verde-esmeralda era dura e reluzente. Morava numa caverna e era louco pela carne tenra e doce das crianças.
Quando chegava a primavera, saía do seu antro tenebroso e atapetado de algas e ia até as praias
do Japão, onde crianças de todas as idades brincavam na areia e mergulhavam alegremente nas águas azuis. O monstro ficava de tocaia e assim que uma criança se afastava um pouco da mãe e avançava mar adentro, ele pulava de seu esconderijo e com um uivo gelado a engolia de uma só vez.
Quantas famílias choraram a perda de seus filhos por causa desse monstro cruel!
De seu castelo celeste, lá no alto, Benten, a deusa da felicidade, observa essas cenas com o coração despedaçado. Ela se compadecia das pequenas vítimas e de seus pais, mas também tinha pena do
monstro.

- Quem sabe - dizia a si mesma - essa sua crueldade se deva à solidão à qual está condenado.
Evitado e temido por todos, foi obrigado a viver num horrível refúgio submarino, sem ao menos um raio de sol para acariciá-lo. Como podia ser bondoso se nunca conhecera a bondade? Sentia-se odiado por todos e odiava a todos. E assim Benten decidiu fazer alguma coisa por aquele ser esquecido pelos deuses e desprezado pelos homens.

Um dia, ela subiu numa nuvenzinha que mais parecia um cisne, e, servindo-se dela como carruagem, atravessou a imensidão do céu e foi até a gruta do dragão. Desceu quase tocando a superfície da água e
pôs-se a chamar o monstro com uma voz doce e melodiosa.
Eis que o mar começou agitar como se estivesse em ebulição. As águas se separaram, e o dragão saiu de sua caverna, a qual era sustentada por uma ilha.
A deusa sorriu e aquele sorriso acalmou a água, que novamente ficou toda azul. Uma infinidade de flores coloridas e perfumadas desabrochou na ilha, e Benten deixou-se cair, leve como uma borboleta sobre aquela terra maravilhosa.
O dragão, imóvel e aturdido, observava todas aquelas maravilhas até então desconhecidas. A deusa aproximou-se e, sempre sorrindo, disse-lhe:

- Por que você não se casa comigo ? Assim nunca mais vai ficar sozinho. Vou amá-lo muito e viveremos num paraíso. Teremos lindas crianças e você será muito feliz.

O monstro concordou, balançou a sua enorme cabeça, e duas lágrimas reluzentes caíram de seus olhos.
Daquele dia em diante, as crianças puderam brincar nas praias tranqüilamente, e ninguém mais teve medo
dos ataques do monstro.

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